Busquei sintetizar a ideia proposta de Arquivística Social ou Arquivologia Social, as quais na minha concepção são expressões sinônimas, na trilha de uma arquivologia mais humanista e centrada na pesquisa acadêmica e na excelência do atendimento às demandas informacionais do cidadão, utilizando os recursos tecnológicos para responder às novas demandas:
Arquivística ou Arquivologia Social = Intersecção, integração, interação institucional e social entre: a gestão do conhecimento (inclui gestão documental) – a consciência social da necessidade de uma política de arquivos – a valorização profissional Arquivista – o aculturamento acerca da valorização do patrimônio documental embasado nos princípios arquivísticos – o aprimoramento dos serviços de arquivo – no servir primordialmente à instituição – atendimento às demandas internas – às demandas informacionais cidadãs externas – a invenção da memória – no servir à comunidade – no servir de fonte primária para a pesquisa – no colaborar para a interpretação da sociedade – elo pontífice para a construção de nossa civilidade e humanidade. E por ai vai…
Muito além de discutir se a arquivologia deve ser uma ciência ou um sistema metodológico, acima do embate se ela deve estar ligada à Ciência Sociais ou à Ciência da Informação, através de meu trabalho de pesquisa que resultou no TCC, descobri que a resposta está no adágio popular: “No meio é que está a virtude. — In medio virtus.” Com estar no meio quero dizer: VIVENCIAR, INTERAGIR, ser pro-ativo, propositivo, conviver com todos os profissionais da informação e manter uma relação dialógica construtiva e aberta para estabelecemos com nossos pares um aprimoramento geral do modus operandi, de sistemas e procedimentos dos serviços de Arquivo com vistas à Gestão do Conhecimento!
A Arquivística Social tangencia as demandas informacionais cidadãs, em seus novos formatos e suportes, e busca evoluir os serviços de arquivo, as pesquisas em arquivologia para responder estas demandas de modo mais efetivo, dinâmico e na velocidade que o progresso e a evolução tecnológica exige de nós!
Minha intersecção social no esforço colaborativo pela tradução da DUA – numa versão oficial ao português:
A DUA é o espelho fiel da Arquivística hoje! No meu olhar o grande mérito do lançamento da proposta da Arquivística social foi socializar a DUA – Declaração Universal sobre os Arquivos. No início de minhas pesquisas para o TCC, encontrei a DUA em vários idiomas no portal da CIA, mas não havia uma versão em português. De imediato sugeri à presidência da AARS divulgar este memorável documento no saite, em espanhol mesmo, para conhecimento público. No meu entender, na DUA está o cerne da Arquivologia Social, pois ela colabora para explicar ao público, noções essenciais sobre a Arquivologia, muitos deles tem sido abordado em nossas universidades, notadamente nas aulas do prof. Jorge Vivar, na UFRGS. No meu entendimento, todo Arquivista, para ser um arquivista deveria ler a DUA e firmar um compromisso social com ela.
Em seguida, continuando a história da tradução da DUA ao português, enviei um e-mail a Claudia Lacombe, do Arquivo Nacional, sugerindo a tradução da mesma. Ela respondeu dizendo que ia enviar ao grupo responsável no CONARQ. E maravilha ganhamos uma tradução oficial em português! Como é bom ser ativista e fazer parte do processo de construção de um documento que consolida esforços dos melhores arquivistas no globo e foi produzido de modo aberto e colaborativo – só podia resultar em um belíssimo trabalho!
Para finalizar a história interessante da DUA, o Arquivo Nacional em convênio com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, pela primeira vez na história elaboraram uma tradução conjunta Brasil/Portugal da DUA, que é a versão oficial que temos no momento! Congratulações e eterna gratidão por todos os que cooperaram para que a DUA chegasse a mão dos cidadãos brasileiros – na minha humilde opinião todos os cidadãos deveriam conhecer o seu conteúdo e não somente os arquivista!
Clique na sub-página da DUA neste blog para mais detalhes, clique no link a seguir para ver a versão oficial da DUA, em português, ICA_2010_Universal-Declaration-on-Archives_PT disponível no portal do Conselho Internacional de Arquivos – ICA. Ela é DUA mas é TUA, leia, compreenda o seu espírito aberto, ético e inclusivo e socialize com seus pares!
Senso de missão:
A missão do arquivista está muito além de ser o guardião dos documentos, ainda mais hoje, onde grande parte do conteúdo está em meio eletrônico, num novo espaço de construção das inteligências coletivas, a qual Pierre Lévy chamou de ciberespaço, que gera uma nova cibercultura, a qual será a base de uma ciberdemocracia interplanetária, sem fronteiras, onde a liberdade plena de expressão e de acesso a informação já não mais será uma utopia, mas sim uma realidade presente, no dia a dia.
Convido-te a pelear comigo neste novo campo, onde a arquivologia rompe as frias paredes do arquivo, para seu lado mais humanista, mais fraternal e solidária, onde todo os suportes de registros humanos interessam, a começar pelos registro de narrativas orais. Onde os serviços de arquivo têm que estar à altura da época e atender ao cidadão na mesma linguagem e com os mesmos meios tecnológicos que ele está habituando-se a conviver com a informação social e cidadã.
No imaginário popular abunda que o/a Arquivista tem sido visto como um “gestor de papel velho” ou um guardião de um “arquivo morto” para ser agente ativo e dinâmico da interpretação social, do resgate da memória e da salvaguarda do patrimônio documental – no sentido amplo de documento multimeios, multisuportes (vídeo, fotografia, narrativa oral, discografia, microfilme, CD, DVD, etc…), incluindo toda a produção em blogs, saites e até o suporte de imagens holográficas.
Torna-se mister estar paripassu com os avanços tecnológicos para estar sempre focado na questão da preservação da informação que anualmente duplica em volume no meio digital anualmente. Estar alinhado com o Projeto InterPARES e todas as iniciativas e esforços por padronização, uniformização e interoperabilidade, como o PRONAME do CNJ e o MOREQ JUS – que foi o modelo de requisitos definido conjuntamente entre o CNJ e o CONARQ. O futuro começa no presente!
Mais detalhes do que considerei como sendo um processo de construção social de uma arquivologia social, mais humanizada e com vocação à dinâmica da evolução, social e tecnológica, leia o TCC que está no repositório Lumen da UFRGS: A arquivística social expressa na Declaração Universal sobre os Arquivos : o caso dos Arquivistas Sem Fronteiras – ASF
Meu TCC que foi considerado avançado demais por alguns membros da banca em sua apresentação na FABICO/UFRGS no final de 2010, defendido em no início 2011, no Curso de Arquivologia. Entretanto, todo o processo de conhecimento, sua construção e evolução inclui contemplar para além de atuais paradigmas, vislumbra além das fronteiras buscando divisar novos rumos e apresentar novos caminhos a serem percorridos pelas novas gerações de arquivistas diante de um mundo digital que avoluma-se em conteúdo e na produção de serviços e facilidades no atendimento às demandas informacionais do cidadãos!
Agradeço a banca examinadora, especialmente ao Professor, Mestre, Especialista representante da ASF no Brasil e Doutorando: Jorge Enriquez Vivar pela direção e olhar crítico. À Coordenadora do Curso de Arquivologia, Professora e Mestre: Maria do Rocio Fontoura Teixeira. E à Arqueóloga, Professora, Historiadora e Doutora: Lizete Dias de Oliveira.
Bem como a todos aqueles que foram imprescindíveis em minha graduação como bacharel em Arquivologia, especialmente todos os colegas, membros da AARS e amig@s!
Sábias palavras. Meu tema no tcc fala sobre a função social do arquivista e realmente são outros tempos. arquivista hoje não vive ou não deveria viver de guardar papel, vai além disto.Tem que ser camaleão, se adaptar ao novo tempo, a tecnologia,visando sempre o resgate e a preservação da informação.
Bem legal o seu comentário, muito obrigado Daniele! Amei a expressão camaleão – é bem por ai! Adaptabilidade é uma questão relevante aos Arquivistas! Fiquei muito feliz com o enfoque do teu TCC, e não posso deixar de dizer que alimento as melhores expectativas de que ele seja uma feliz contribuição a nossa profissão!!! Sucesso e no que precisar conte comigo!
Adorei seu blog… ainda mais porque estou cursando arquivologia. Olha, mandei um e-mail pra vc, preciso muito da sua ajuda sobre três coisas: 1) arquivistica social tem a ver com a lei de liberdade de informação? ; 2) como e onde consigo um espécie de biografia sobre a vida e obra de Michael Cook? ; e 3) Gostaria de encontrar material informando sobre como os arquivistas enxergam essas mudança da lei de liberdade de informação, o que para eles muda na gestão arquivistica… entrevistas , artigos… o que os arquivistas consagrados pensam sobre isso? eu preciso problematizar essa questão no meu trabalho.
Desde já, muito obrigado! Feliz 2013 para vc e todos os seus, sucesso pessoal e profissional. samuelpoeta@hotmail.com
Olá Samuel, grato pelo seu comentário. Apesar de não ter recebido seu e-mail, vou responder suas interessantes perguntas através de um e-mail e assim espero poder ajudá-lo em seu trabalho acadêmico! Abraço e feliz 2013 para você também!
Jackson, obrigado pela resposta via blog. Aguardo seu e-mail… vc disse que não recebeu meu e-mail, certo? então reproduzo ele aqui, com a sua licença:
Boa noite Jackson !
Meu nome é Samuel Souza Lima, aluno de Arquivologia do 1º período na UNIRIO-RJ.
Eu encontrei o seu blog http://arquivistasocial.net/ e gostei muito das ideias que você coloca. Parece que não existe mesmo quase nada (ou nada!) de literatura sobre Arquivista Social. O que é o Arquivista Social?
Pelo que eu entendi, Arquivista Social é uma nova maneira do arquivista se posicionar na relação entre os arquivos de sua responsabilidade e o valor que isso tem socialmente, parece mesmo uma oposição ao velho conceito de arquivista de custódia de documentos, sempre à espera de solicitações vindas de outros setores (por exemplo, um pedido administrativo) para que se sinta importante no processo histórico de decisões humanas, seja isso em micro ou macro dimensão.
Ao meu ver, parece uma quebra de paradigma, na medida que: por um lado temos o arquivista de custódia, sempre orientado a manter sob sete chaves o acervo, ignorando a perspectiva possível do âmbito social que seu trabalho arquivistivo potencialmente possui; Enquanto que na arquivologia social, almeja-se “como meta uma arquivologia mais humanizada e valorizada, enquanto carreira pública, além de abrir os horizontes para uma melhor compreensão dos gestores e das instituições do saber profissional arquivístico e um reconhecimento por parte da sociedade da relevância da(o) ator social Arquivista”. E aí acrescento: passa-se de uma política de controle documental para um processo de compartilhamento desses documentos com toda a sociedade. Seria a ideia relacionando ARQUIVISTA SOCIAL E LIBERDADE DE ACESSO À INFORMAÇÃO?
Palavras suas (colocadas entre aspas), em seu blog, que lembram as do meu professor da matéria Construção do Pensamento Arquivístico, ao dizer que “a arquivologia ainda não se encontrou plenamente como saber científico pleno, muito por essa questão: falta em nós, construir o reconhecimento junto à sociedade sobre a relevância deste ator social arquivista, e, por consequência, estabelecer cientificamente a arquivologia de forma autônoma no cenário do saber”.
Nesta perspectiva a LEI DE ACESSO A INFORMAÇÃO tende a dar novos rumos a arquivologia, e, assim, alterando o modelo comportamental passivo de arquivistas frente ao processo social existe mas oculto na sua relação cotidiano com os documentos.
Essa mudança da gestão dos processos documentais, saindo do segredo e privilegiando o acesso, faz-me lembrar o título de um livro (autor: Alexandre Koyre), cujo título é “Do mundo fechado ao universo infinito”. Ou seja, em termos de historia dos arquivos (aí incluímos livros e todo gênero de coisa escrita), saímos do obscurantismo do mundo fechado que foi a inquição da idade média e chegamos na claridade do universo infinito de possibildades aberto pela lei de liberdade da informação, onde os processos se ampliam com a participação da sociedade como um todo.
Mas o que, em boa medida, me faz também escrever este e-mail é no sentido de buscar uma ajuda, já no curso de arquivologia escuto muito que os arquivistas são unidos num espécie de socialismo cultural. Meu professor de Introdução à Arquivologia promoveu um trabalho individual a ser entregue ano que vem. São dois artigos para ler e analisar por escrito. Um dos artigos que tenho é o do autor Michael Cook, intitulado “Liberdade da Informação: influência sobre a prática profissional em gestão de arquivos”. Ele quer, além da analise do texto, uma apresentação por escrito de quem é o autor (tipo uma mini biografia).
Gostaria de obter ajuda no sentido de como posso encontrar, pois já procurei exaustivamente em vão, na internet esta espécie de biografia (ou algo parecido) e algum(ns) texto(s) que abordem a questão da liberdade e acesso a informação influenciando ou até mudando nossa rotina de gestão documental, o que pode ser bom o ruim, até onde isso faz sentido ou até onde pode comprometer nosso trabalho, até mesmo pela questão do sigilo. Neste ponto, eu preciso problematizar a questão, ou seja, cientificamente falando, tenho que dimensionar o objeto de pesquisa (a lei de informação) no sentido de contextualizar com outros elementos cujo o resultado é este: o deslocamento do ser arquivistico da sua posição atual (ou menos atual depois da seu excelente TCC) de inercia e mundo fechado, para uma outra posição: dinâmica e inserida no contexto social. Algo somente comparável, cientificamente, a mudança de visão do Geocentrismo para o Heliocentrismo. Peço ajuda nessas duas situações, desculpando sim por algum inoportuno e, principalmente, pelo e-mail gigantesco.
Aproveito o momento para desejar-lhe, e todos os seus, um maravilho 2013, pessoal e profissionalmente.
Grato!
Saudações arquivisticas
Parabéns pelo seu trabalho
Sou formada pela UNIRIO, primeira turma , em 1978, mas acompanho a evolução e os debates sobre Arquivologia. Concordo com você sobre a permanência dos arquivos no seu local de origem seja publico ou privado talves a excessão seria caso da extinção da instituição. Eu amo Arquivologia, trabalhei muitos anos na Bolsa de Valores, entrei como estagiaria , foi criado o cargo de arquivista até a sua extinção. Trabalhei no Museu Aeroespacial e hoje sou aposentada pela Agência Nacional de Aviação Civil, como arquivista..
Na minha opinião a Arquivologia é muito fechada, cercada por uma elite que não vê o arquivo, a informação o e arquivista como parte integrante a sociedade.. É diferente da Biblioteca que procura cada vez mais chegar perto do povo. A Arquivologia como um todo precisa se popularizar.
Ivonete Pereira Tavares