Tenho uma conta no Yahoo, mas lamento o fato de que, no afã de traduzir matérias de revistas estrangeiras, não haja o devido cuidado para não afirmar coisas não condizentes com a realidade nacional.
Refiro-me a uma lista como as 20 profissões que estaria entrando em processo de extinção gradativa até 2020 que eles reputam a autoria à revista Forbes, onde está mencionada a profissão de Arquivologista ou Arquivista. Porque não falar na profissão de Jornalista que estaria em franca ameaça – chegando até a perder a necessidade de diplomação. Também o índice de demissões está crescendo muito no Brasil, (vide: Jornal da Tarde demite mais de 20 jornalistas ). Vários jornais, ao nível global, já estão migrando para a plataforma do web jornalismo. Conforme a tendência comunicacional e informacional do IIIº Milênio, com base no crescente uso de Blogs, das Redes Sociais, e considerando o modo como as pessoas estão se comunicando e consumindo informações, grandes mudanças estão acontecendo e poucos estão conseguindo ver. Quem não se atualizar ou ter uma ideia básica da dinâmica do Mass Self Communication de Castells, infelizmente vai perder o sentido de sua profissão, ainda mais se é da área de comunicação!
Eis uma parte do texto do Yahoo:
“A revista norte-americana Forbes, especializada em economia e finanças, divulgou recentemente lista que indica uma previsão de profissões que serão extintas gradativamente até 2020. A pesquisa foi baseada em dados apresentados pelo governo americano que prevê um desgaste considerável no número de profissões que exigem baixa qualificação do profissional, como assistentes administrativos, costureiras, agricultores, técnicos e operadores de computadores, entre outras.”
Uma crítica: Se a pesquisa foi baseada em informações do governo americano, então pode ser um indício preocupante, por que, ao não valorizar a profissão de Arquivista, está sendo realizado uma assinatura de que o patrimônio documental americano, bem assim a relevante questão da preservação digital, brilhantemente contemplada no projeto internacional Interpares, é algo que não tem sido dada a real importância que esse assunto requer por parte dos governantes. Afinal a informação é uma pertença cidadã, e os Arquivista, estão aí para colaborar com seus conhecimentos como resolver a equação sem resposta, da preservação digital no longo prazo. Porque será que os EUA ainda não aderiu ao Interpares?
Proposta de correção: Essa informação apresentada pelo Yahoo Educação, não se sustenta na prática, e, é bem provável que não tenham a noção correta do que faz um Arquivista, talvez nunca acessaram o portal do Conselho Internacional de Arquivos ICA, nem tem a menor ideia de que, como toda profissão da área da Ciência da Informação, há um esforço no sentido de atualização e aprendizado constantes. Um exemplo seria a proposta de uma “Arquivística Social” ou seja que tenha a capacidade de adaptar-se as novas realidades da produção documental via Web 2.0; tenha preocupação com metodologias de preservação do crescente volume de imagens digitais; desenvolva arquivos digitais que oferecem os documentos digitalizados e descrições arquivísticas online.
No Brasil, novos cursos de Arquivologia estão sendo criados justamente para atender o crescimento da demanda. O Ministério da Educação autorizou a abertura de 369 vagas para professores de Arquivologia. O CNJ publicou uma recomendação que sugere que todos os tribunais tenham Arquivistas em seus quadros. E até o Senado abriu 5 vagas com salário em torno de 19 mil reais.
Em resumo, incluir a profissão de Arquivista na lista dos 20 profissões que sumiram até 2020, considero quase como uma ofensa à consciência social, que cresce na exata medida que cada cidadão valoriza o patrimônio documental e que o acesso a essas fontes primárias serão sempre necessários à pesquisa, ao suporte de notícias, documentários e até para a tese da interpretação social, como apontou Terry Cook, no seminário sobre Arquivologia e Memória na Universidade de Duke, em fins de 2011. Outro ponto, talvez esquecido, dessa matéria do Yahoo é que é pela via dos Arquivos que temos um caminho para chegarmos a reparação, ao encontro da verdade, justiça e memória, como o recente conquista da abertura dos arquivos da ditadura.
Bem estamos aí na luta! Enquanto isso os Arquivistas, o Arquivo Nacional, o CONARQ, continuam a produzir recomendações que garantem no presente, o que em 2020, ainda deve estar preservado arquivisticamente correto! E quem sabem aproveitamos o ensejo para que outros profissionais, que costumam desdenhar os Arquivistas, abram a porta para quem está se preocupando com Modelos de Requisitos, e-Arq Brasil, só para citar dois exemplos à partir dos quais o conhecimento e respeito vai possibilitar que as informações sejam acessadas por todos, no exercício do direito de acesso, promovendo a interoperabilidade de troca de informações entre diferentes bancos de dados à luz do novo paradigma do processo eletrônico!
Ah, aproveito para sugerir ao Yahoo, que aprimore seu site para que os usuários ao tentar postar um comentário não dê erro – e olha que esses profissionais não estão contemplados na listagem das 20!
Referências:
O Arquivista é um ator social interativo no agora, mas vidrado no amanhã
TCC 2011: A arquivística social expressa na DUA: o caso da ASF
Profissões que estão acabando. Yahoo Educação 2-7-2012
A despeito da pertinência inequívoca dessa análise, acredito que a justificativa do texto é algo bem mais simples. Nos EUA a profissão está dividida entre dois profissionais: archivists e record managers. Observemos que o record manager não está entre as profissões listadas. Há um equívoco, como você bem observa sobre a qualificação de ambos os profissionais e, mais ainda, de que os arquivistas – no escopo norte-americano – não precisam de conhecimento tecnológico para gerir e dar acesso aos acervos sob sua guarda, afinal, os documentos digitais não são, comumente, lembrados como pertencentes aos arquivos públicos. Esta é uma análise que – mesmo que não fosse equivocada – não se aplicaria ao caso brasileiro, cujo termo “arquivista” designa tanto o profissional que atual nos arquivos permanentes quanto aqueles que trabalham nas demais faces do ciclo documental, englobando as responsabilidade e necessidade de formação de ambas as especializações da “América” estadunidense.
Grato Vanderlei pela inteligente e oportuna ponderação!