O incêndio no Arquivo Público de São Paulo e o Gerenciamento de Risco!

Em 2010, durante um ano, em encontros mensais, tive a grata satisfação de realizar o Curso de Extensão Universitária em Patrimônio Cultural, patrocinado pela ACOR-RS, UFRGS (Secretaria do Patrimônio Histórico e Museu), Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Um curso que recomendo dado a sua excelência e o preparo dos instrutores – todos feras!

Um dos módulos abordou uma questão premente à integridade dos acervos, em geral esquecida pelos gestores, a Gestão de Risco. Como esse curso primou por ser de altíssimo nível, esse módulo foi ministrado por uma autoridade no assunto, o renomado Prof. e Consultor em Gestão de Risco José Luis Pedersoli Jr.. Outra parte do módulo foi apresentada pela Prof. Lorete Mattos, especialista em conservação e, que atua na Conservação Preventiva de Bibliotecas e Arquivos, com ênfase no Gerenciamento de riscos em coleções. 

Penso que a opinião pública, e, especialmente os Arquivistas brasileiros ficaram estarrecidos com as consequências do incêndio que destruiu parte do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo, que está há 2 anos em obras para expandir a capacidade de armazenamento do acervo histórico, que será multiplicada em nove vezes. Eis algum excertos da notícia veiculada no jornal O Estadão:

“O material danificado estava em quatro estantes, de cinco prateleiras cada. No total, foram queimados de 15 a 20 metros lineares de documentos. De acordo com servidores ouvidos pelo Estado, a orientação da direção foi para abafar o caso. “A diretoria diz que se um bombeiro entrar aqui vai precisar interditar a obra. E não querem isso”, afirma um dos funcionários.” 

“O descontentamento de grande parte dos 232 funcionários – entre diretos, terceirizados, estagiários e parceiros – do Arquivo com a obra é anterior a esses problemas, como mostra uma carta interna assinada por servidores, datada de 2 de fevereiro, a qual o Estado teve acesso. Como a obra pressupõe uma mudança física do acervo, em novembro do ano passado a diretoria e os funcionários se reuniram e foi lançada a proposta de que os próprios servidores realizassem o empacotamento e a transferência do material.” (…)

“Segundo o relato dos funcionários do Arquivo, foi justamente a demora para se perceber o fogo que permitiu que ele se alastrasse. “É papel. Em minutos, o fogo consome tudo”, diz um deles. O sistema automático já faria um alarme soar assim que a fumaça fosse detectada, além de despejar jatos d’água sobre o foco do incêndio.”

O objetivo desse post é lançar um alerta e despertar a consciência social e institucional com relação a responder a seguinte pergunta chave: Qual o importância que estou dando ao valor do patrimônio documental (institucional, cultural e memorial)  que está sob minha custódia?

Implantar uma Gestão de Risco não é algo caro! Os prejuízos e perdas irrecuperáveis à construção da memória, ao desenvolvimento da pesquisa histórica, além do peso na consciência e da responsabilização pelas perdas é o que deveria preocupar todos os gestores. A decisão acertada no sentido da implantação da gestão de risco impulsiona as melhores práticas nessa questão urgente e estratégica, não só para a segurança e integridade dos acervos, mas também para a saúde e a vida dos próprios servidores!

Algumas dicas simples, já abordadas nesse blog, que podem fazer a diferença:

– implantar sistema contra-fogo automático é o básico, com sensores de fumaça;

– proibir terminantemente fumar nas dependências do prédio do arquivo;

– evitar cozinha e, principalmente, cozinhar nas dependências do prédio do arquivo;

– envolver todos os servidores numa nova aculturação: a segurança começa com a consciência dos riscos;

– fazer uma revisão elétrica, principalmente no balanceamento de carga dos circuitos elétricos. Um disjuntor caído toda hora, é risco iminente de princípio de incêndio!

– convidar os bombeiros para fazer uma palestra sobre prevenção contra incêndio, bem como uma simulação de incêndio, com evacuação total do prédio, pelo menos uma vez por ano.

 Outra recomendação é fazer um diagnóstico da situações de risco, que é um procedimento técnico que segue um protocolo rígido e deve ser realizado por um especialista gabaritado. De nada adianta fazer um diagnóstico com alguém que não tenha a qualificação necessária para tal. 

Referências:

Comitê Brasileiro do Escudo Azul – Arquivo Nacional

Incêndio danifica acervo do Arquivo do Estado. O Estadão, 11/3/12

Curso de Extensão Universitária – Preservação de Patrimônio Cultural: Conceitos e Técnicas

Sobre Jackson Guterres

Sou um Cientista Cristão brasileiro atuando como Praticista da Ciência Cristã na cidade de Salvador, capital da Bahia, no Brasil.
Esse post foi publicado em ARQUIVÍSTICA SOCIAL, CONSCIÊNCIA INSTITUCIONAL, CONSCIÊNCIA SOCIAL, GERENCIAMENTO DE RISCO, INCÊNDIO NO ARQUIVO PÚBLICO DE SÃO PAULO, PATRIMÔNIO DOCUMENTAL e marcado , , , , , , , , , . Guardar link permanente.

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